No dia 13 de junho deste ano, aconteceu a premiação dos finalistas do 17º Prêmio Sangue Novo de Jornalismo Paranaense. Eu, Vinícius Buganza e Marcos Vinícius Campos recebemos o certificado de segundo lugar na categoria Rádiodocumentário, com o trabalho "Por uma segunda chance".
Se você ficou curioso para ouvir o doc, acesse aqui e ouça a produção na íntegra.
Alunos do quarto ano da Unopar também foram premiados em primeiro lugar na categoria Projeto em Assessoria de Imprensa - Fazendinha na ExpoLondrina 2011. A Unopar também recebeu o prêmio de primeiro lugar na categoria Jornal on-line com o Comtexto.
Blog da Samara
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
sábado, 12 de maio de 2012
Eterna mãe que sou
Minha família sempre teve uma criação muito rígida e as
meninas precisavam aprender desde pequena a ser uma boa dona de casa. Fui
criada em um sítio, nos arredores de uma cidadezinha do interior paranaense. Mamãe
me fazia acordar muito cedo, lavar o terraço de casa, pendurar as roupas no
extenso varal do quintal e claro, engraxar os sapatos do meu pai. Ah, mas eu
odiava moer café! Cansava meus braços e doía as costas ao debruçar sobre a mesa
rebaixada da varanda. Mas eu não podia desistir até completar os quatro
potinhos brancos, ligeiramente amarronzados pela cor natural do grão.
Casei-me com vinte e um anos de idade. Cuidar de uma casa foi
fácil demais depois de ter aprendido tudo com minha mãe. Engravidei aos vinte e
dois e aí sim as coisas começaram a mudar. No começo, tive alguns enjoos
naturais de início de gestação, e nos meses posteriores ganhei peso de forma ligeira
e descontrolada. Os ossos ficavam doloridos, os pés pareciam de uma elefanta e
a aliança de casamento nem saía mais do dedo anelar. Mas a sensação que eu
sentia era indescritível. Ah, eu carregava meu amado filho, um bebê primoroso
que estava prestes a nascer.
Ele conheceu o mundo em 30 de junho de 1989. Um meninão lindo! Pesava quatro quilos e trezentos gramas, media cinquenta e um centímetros. Meu
filho não poderia ser mais perfeito. Traçou um berro, daqueles de arrancar o
maior sorriso que meus lábios já acolheram. Enrugadinho, com os olhos
grudados, aproximou-se de mim e o silêncio reinou na sala de parto. Ele havia
encontrado a mãe.
Felipe cresceu puro e eletrizante. Teve uma infância
abençoada, ditoso em ter uma família como a nossa. O pai tinha ao alcance tudo
que achava necessário. E deu o mesmo ao filho.
_ É hora de ir pra
aula, Felipe! - avisei naquela manhã de segunda-feira.
_ Ah, mãeeeeeeeeee, quero dormir! - pediu Felipe,
graciosamente.
_ Vamos menino, levante daí, como você quer passar no
vestibular? - indaguei.
Felipe estava com 17 anos de idade e no último ano do
colegial. Contrariado, ele escovou os dentes, penteou o cabelo, colocou o
uniforme azul e branco, enquanto eu preparava seu café. Esquentei o leite e o
pão, passei a margarina por cima, pois ele gostava assim, derretendo.
Após algumas tentativas, Felipe passou no vestibular de
direito na melhor faculdade do estado. Lembro-me bem do dia em que saiu o
resultado. Ele gritava de alegria, e pulava forçosamente em meu pescoço. A mim,
só restavam lágrimas de alegria por essa grande conquista. Ele foi morar fora,
em uma república, isso há cerca de quatro anos.
Lipe vem me visitar nas férias da faculdade. Vejo o meu
filhão duas vezes por ano. Nunca imaginei que uma das épocas mais esperadas
fosse em meados do castigante inverno. Não posso mais carregá-lo em meus
braços, pois hoje ele pesa mais que meu próprio corpo. Não posso mais guiá-lo
pelas mãos, pois suas pernas já exercem essa função. Não posso mais fazer as
escolhas por ele, pois o tempo passa e os filhos crescem. Ah, eles crescem, mas
para nós nunca deixam de ser crianças. Contenho-me por várias vezes ao vê-lo
posto em minha frente. Felipe já é um homem e não posso mimá-lo como fazia
quando era criança.
Na solidão deste quarto, deitada em sua cama, observo o quarto
intacto. A mesma fronha, escrivaninha velha, e um guarda-roupa com algumas
surpresas para o dia que ele vier. A televisão para torcer pelo time de coração,
os chinelos velhos e confortáveis. Filho, mamãe está longe, mas a dor da
saudade não tem medida. Seu cantinho estará sempre aqui, mesmo quando não
voltar.
sábado, 26 de novembro de 2011
Por uma segunda chance
Eles se reúnem toda quarta-feira, no
mesmo horário e endereço. Na Rua Mato Grosso, centro de Londrina, a Paróquia
dos Sagrados Corações recebe uma vez por semana pessoas de várias regiões da cidade.
O público é misto, desde homens mais velhos, pais de família, jovens
adolescentes, mulheres de vinte a cinquenta anos de idade. São pessoas
distintas, mas com um mesmo objetivo.
Ao chegar, sou recebida pela
orientadora do grupo. É uma jovem senhora de aparência muito agradável e
sorriso convidativo. Ela me dá as boas-vindas e pede para que eu me sinta à
vontade. Eu me apresento e digo que estou ali por uma reportagem. Ela me
concede a permissão, desde que eu preserve a identidade dos participantes, se
assim desejarem.
Ao entrar na sala destinada à
reunião, poucas pessoas estão presentes. O horário pode explicar, já que a
maioria costuma chegar poucos minutos antes do combinado. O relógio marca 19h50
e o público entra na sala aos montes. A maioria dos lugares são ocupados e a
efervescência toma conta do local.
As pessoas presentes ali parecem se
conhecer há algum tempo. Logo na primeira ala de cadeiras, à beira do palco,
alguns jovens brincam entre si e conversam amigavelmente, mostrando certa intimidade.
A direita do salão, alguns casais discretos permanecem sentados, esperando
pacientemente. Um grupo de várias senhoras se acomoda no fundo do local. Mãe,
pai e um filho, muito jovem por sinal, também aguardam na expectativa.
A jovem senhora, orientadora do grupo
dá as boas-vindas a todos os presentes.
__ Boa noite pessoal!
__ Boa noite - responde o público em
alto e bom som.
__ Como vai você? - pergunta a
orientadora.
__ Cada vez melhor - respondem
novamente em uníssono.
A força dessas pessoas é alimentada
toda semana por reuniões motivacionais como esta. O Amor Exigente é um programa
de auto e mútua ajuda que visa orientar e conscientizar dependentes químicos a transformar
o modo de vida. Através de reuniões semanais, os participantes promovem debates e troca de
experiências. O grupo conta com a participação de ex-dependentes, dependentes em
recuperação, bem como co-dependentes químicos, ou seja, familiares e amigos que
convivem diretamente com usuários na ativa.
Após a recepção, um rapaz é
convidado a tocar e cantar uma música. Ele se levanta, pega o violão, vai para
frente do palco e arrisca os primeiros acordes. Sua voz grave e rouca acompanha
a melodia da música. O público fica totalmente em silêncio. O rapaz canta de
alma e coração entregues, com humildade presente nos olhos. É um moço simples,
sem presunção. Não me lembro ao certo as palavras cantadas, mas me recordo bem
que ela falava sobre o poder de Deus. Até os menos religiosos se emocionariam
com tamanha interpretação.
No último acorde, o público aplaude
ardorosamente. O jovem sorri encabulado e agradece. Todos se levantam, dão as
mãos e fazem uma corrente única em prol da oração. O Pai Nosso é a reza inicial
que abre a reunião do dia.
Posteriormente, o público é divido em
grupos para a partilha. Reunidos em salas separadas, pais, dependentes e ex
usuários trocam experiências de vida. Eles contam a dor, a dificuldade, a
mágoa, a tristeza, a esperança, a vitória da recuperação.
Às dez horas da noite a partilha se
finda. Alguns jovens interagem por um tempo na calçada em frente à igreja, a
orientadora agradece pela presença e aos poucos a igreja se esvazia, os carros
estacionados na rua não mais estão.
A vida traz oportunidades e
escolhas. Essas pessoas se uniram pela fé, esperança e confiança na
transformação. Optaram por fazer a diferença. E escolheram acreditar que a vida
permite uma segunda chance.
Texto de Samara Rosenberger
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Os depoimentos de dependentes, pais
e ex-dependentes químicos você ouve no documentário abaixo.
Documentário produzido pelo Sexto Semestre de Jornalismo - Universidade Norte do Paraná - UNOPAR
Apresentação e Produção: Mark Campos, Buga de Souza e Samara Rosenberger
Edição: Buga de Souza e Samara Rosenberger
Edição de áudio: Edivaldo Mota
Coordenação geral: Giovana Chiquim
Marcadores:
comportamento,
documentário,
drogas,
rádio
Inocência perdida
A menina faria seis anos de idade no dia seguinte.
Sorridente, com a inocência nata da infância, pediu ao pai um presente mais que
especial: uma bicicleta. O pai, um velho carrancudo e fiel às tradições morais
da família, resistiu, mas acabou cedendo ao desejo da filha.
A loja de artigos infantis estava lotada de brinquedos
caros. As bicicletas vinham com adereços dos mais variados tipos, buzinas
acopladas, cores femininas ou masculinas, penduricalhos e sininhos atraíam
ainda mais os pequenos, porém, não convenciam o velho pai.
Ele resolveu tentar uma loja comum com bicicletas “normais”.
Comprou ali mesmo uma simples e discreta de cor vermelha e resolveu seguir o
conselho do vendedor – levou consigo duas rodinhas para ajudar na hora de
equilibrar a menina em cima do novo brinquedo.
No dia seguinte, a casa estava totalmente decorada com
bexigas coloridas e faixas com os desenhos favoritos da garota. A mãe confeitou
um bolo de chocolate, o sabor preferido da filha. A felicidade não cabia dentro
da criança. De cabelos amarrados dos dois lados com “chuquinhas” cor de rosa e
pele angelical, puxou o fôlego e assoprou as seis velas acesas no bolo coberto
de brigadeiro.
O pai, durão e com um sorriso discreto, trouxe a bicicleta
vermelha acompanhada de um laço branco. Um grito estridente tomou conta da
casa, seguido de fortes abraços e beijos molhados, típicos de crianças, claro. Ela
passaria as próximas semanas tentando se equilibrar em duas rodas de uma
simples bicicleta. Ela passou o ano inteiro andando pelas ruas, tomando ar
puro, observando pessoas, distribuindo graça e entusiasmo.
O menino faria seis anos de idade no dia seguinte.
Sorridente, ele pede ao pai um presente caro e muito desejado. Ele quer um
notebook. O pai, um velho moderno, concorda e vai até uma loja de eletrônicos
satisfazer o desejo do filho. A criança entusiasmada recebe o presente e enche
o pai de agradecimentos. O menino liga o laptop, conecta à internet e passa a
festa inteira navegando na rede. Os pais tentam repreender, porém, sem sucesso. A diversão na
frente da tela parece mais interessante.
terça-feira, 15 de novembro de 2011
Tudo seu
O despertador toca. Abro meus olhos e percebo que ao lado só
me resta uma parede branca e fria. A textura áspera não combina com a maciez da
sua pele. Seus olhos fechados de imensa ternura estão apenas na lembrança.
De nada adianta sair do quarto para evitar o porta-retrato.
Seu rosto está em todos os lugares. Vejo suas iniciais nas placas dos carros. O
rádio ligado toca a música que você me ensinou a gostar. Lembro-me da roupa que
você usava olhando as vitrines da cidade agitada. Os livros que eu li falam
de você, porque falam de amor.
Eu não espero por uma ligação, nem ao menos por uma palavra
sua. Eu não espero que você me procure, nem que se preocupe comigo. Eu não
espero que você volte. Eu não espero, esperando.
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