sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Um dia de domingo

Era primavera, mas os dias pareciam não corresponder à estação das flores. Ontem, porém, o dia amanheceu tranquilo e ensolarado. Abri os olhos e avistei pela janela os majestosos raios de sol. Os feixes de luz entravam pela persiana entreaberta e iluminavam o quarto escuro. A vontade de virar de um lado para o outro, aproveitando o calor aconchegante do edredom não cabia dentro de mim. Era domingo.

As manhãs de domingo não tem sido como outrora. Os pais se sentavam a mesa e chamavam os filhos, rezavam uma benção sobre o alimento e juntos desfrutavam alegremente o banquete farto, comum nos finais de semana. Hoje acordo e ligo a TV, enquanto meu pai berra estridentemente pelo almoço.

Era domingo e excepcionalmente, não fiquei em casa. Para onde eu fui, tive que usar um mapa. Não é muito longe de casa, mas precisei percorrer alguns quilômetros. Sair de uma cidade pacata e vazia como a minha já virou rotina. Entrei no carro e coloquei o cinto de segurança. Bolsa, dinheiro e documentos.

Após cerca de quarenta minutos, cheguei ao destino. Ao redor do prédio várias árvores adornavam o local, trazendo um cheiro refrescante de mato e um som delicioso do cantar dos pássaros. O lugar tinha uma churrasqueira discreta, mas suficiente. Aos poucos, as pessoas chegavam. Alguns amigos, outros apenas conhecidos. Eles falavam de estudos, futebol, música, filmes, amores. Sentada em uma cadeira de bar, feita de ferro e pintada com tinta branca, observei cada gesto, sorriso e reação.

No meio do dia, avistei longe um menininho andando nos arredores do condomínio. Ele tinha cabelos lindos e viscosos, que brilhavam com a luz do sol. Uma textura escura, típica de descendentes orientais. Vestia camisetinha listrada e uma bermudinha ocre. O cabelo cortado em formato de tigela dava perfeição ao conjunto. O pequeno não deveria ter mais de três anos de idade. Ria descontroladamente e caminhava com uma graciosidade jamais vista. Olhei e sorri.

Parei por um momento, intacta. Meus olhos miravam o nada. Percebi que tinha ao meu redor amigos especiais, que faziam toda a diferença só por estar ali. Notei que não era preciso dizer nada, apenas estar ao meu lado. Entendi que um lindo dia ensolarado, um almoço com amigos e conversas jogadas fora dão sentido às coisas simples da vida. O dia começava a valer a pena. Era domingo.