Eles se reúnem toda quarta-feira, no
mesmo horário e endereço. Na Rua Mato Grosso, centro de Londrina, a Paróquia
dos Sagrados Corações recebe uma vez por semana pessoas de várias regiões da cidade.
O público é misto, desde homens mais velhos, pais de família, jovens
adolescentes, mulheres de vinte a cinquenta anos de idade. São pessoas
distintas, mas com um mesmo objetivo.
Ao chegar, sou recebida pela
orientadora do grupo. É uma jovem senhora de aparência muito agradável e
sorriso convidativo. Ela me dá as boas-vindas e pede para que eu me sinta à
vontade. Eu me apresento e digo que estou ali por uma reportagem. Ela me
concede a permissão, desde que eu preserve a identidade dos participantes, se
assim desejarem.
Ao entrar na sala destinada à
reunião, poucas pessoas estão presentes. O horário pode explicar, já que a
maioria costuma chegar poucos minutos antes do combinado. O relógio marca 19h50
e o público entra na sala aos montes. A maioria dos lugares são ocupados e a
efervescência toma conta do local.
As pessoas presentes ali parecem se
conhecer há algum tempo. Logo na primeira ala de cadeiras, à beira do palco,
alguns jovens brincam entre si e conversam amigavelmente, mostrando certa intimidade.
A direita do salão, alguns casais discretos permanecem sentados, esperando
pacientemente. Um grupo de várias senhoras se acomoda no fundo do local. Mãe,
pai e um filho, muito jovem por sinal, também aguardam na expectativa.
A jovem senhora, orientadora do grupo
dá as boas-vindas a todos os presentes.
__ Boa noite pessoal!
__ Boa noite - responde o público em
alto e bom som.
__ Como vai você? - pergunta a
orientadora.
__ Cada vez melhor - respondem
novamente em uníssono.
A força dessas pessoas é alimentada
toda semana por reuniões motivacionais como esta. O Amor Exigente é um programa
de auto e mútua ajuda que visa orientar e conscientizar dependentes químicos a transformar
o modo de vida. Através de reuniões semanais, os participantes promovem debates e troca de
experiências. O grupo conta com a participação de ex-dependentes, dependentes em
recuperação, bem como co-dependentes químicos, ou seja, familiares e amigos que
convivem diretamente com usuários na ativa.
Após a recepção, um rapaz é
convidado a tocar e cantar uma música. Ele se levanta, pega o violão, vai para
frente do palco e arrisca os primeiros acordes. Sua voz grave e rouca acompanha
a melodia da música. O público fica totalmente em silêncio. O rapaz canta de
alma e coração entregues, com humildade presente nos olhos. É um moço simples,
sem presunção. Não me lembro ao certo as palavras cantadas, mas me recordo bem
que ela falava sobre o poder de Deus. Até os menos religiosos se emocionariam
com tamanha interpretação.
No último acorde, o público aplaude
ardorosamente. O jovem sorri encabulado e agradece. Todos se levantam, dão as
mãos e fazem uma corrente única em prol da oração. O Pai Nosso é a reza inicial
que abre a reunião do dia.
Posteriormente, o público é divido em
grupos para a partilha. Reunidos em salas separadas, pais, dependentes e ex
usuários trocam experiências de vida. Eles contam a dor, a dificuldade, a
mágoa, a tristeza, a esperança, a vitória da recuperação.
Às dez horas da noite a partilha se
finda. Alguns jovens interagem por um tempo na calçada em frente à igreja, a
orientadora agradece pela presença e aos poucos a igreja se esvazia, os carros
estacionados na rua não mais estão.
A vida traz oportunidades e
escolhas. Essas pessoas se uniram pela fé, esperança e confiança na
transformação. Optaram por fazer a diferença. E escolheram acreditar que a vida
permite uma segunda chance.
Texto de Samara Rosenberger
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Os depoimentos de dependentes, pais
e ex-dependentes químicos você ouve no documentário abaixo.
Documentário produzido pelo Sexto Semestre de Jornalismo - Universidade Norte do Paraná - UNOPAR
Apresentação e Produção: Mark Campos, Buga de Souza e Samara Rosenberger
Edição: Buga de Souza e Samara Rosenberger
Edição de áudio: Edivaldo Mota
Coordenação geral: Giovana Chiquim