domingo, 6 de novembro de 2011

Utopia do amor


Novecentos longos quilômetros os separavam. Ao menos um fim de semana ao mês, ele arrumava as malas, aprontava as roupas, reservava a escova de dente e suportava dificilmente doze horas dentro de um ônibus de linha. Para ele, o tempo gasto e o cansaço do corpo não importavam, pois a recompensa viria logo pela manhã.

O final de semana era sempre o mais aguardado. Ele escolhia as melhores camisas, o mais novo perfume, aparava a barba, penteava os cabelos. Ele não costumava ser vaidoso, mas só de pensar em vê-la o ar se renovava, o dia cinza se tornava ensolarado, o sorriso perdido retornava ao rosto.

Chegando ao destino, o lugar parecia impecável, magnífico, completo.

__ Este lugar só pode ser o paraíso, esbravejou o jovem.

As cenas, os movimentos, a natureza, o tempo. A garota vinha em sua direção. Cabelos esvoaçantes e negros. Seu cheiro impregnava o local e adormecia os sentidos. Ela o beijava com ternura e seus olhos brilhavam de imensa alegria. O fim de semana foi regado a bebidas, risadas, conversas, companhia agradável. Familiares e amigos o aceitavam como um filho e ele não poderia desejar outra coisa no mundo.

Doze longas horas o esperavam novamente. De volta à realidade, a semana começou e ela não ligou. Os e-mails dele não eram mais respondidos. Ela entrava em contato brevemente, falava cerca de cinco minutos e dizia que estava muito atarefada. Desculpou-se pela falta de atenção, mas precisava resolver outras coisas. Abatido, o moço apaixonado entristeceu-se com tamanha indiferença.

No outro mês a cena se repetia. Ele enfrentava extensas horas num ônibus, era bem acolhido e o êxtase enchia seu peito de esperança. A viagem parecia uma dose entorpecente. A abstinência o deixava desesperado, alucinado, desalentado. Ela continuava ocupada demais para ele. O romance parecia uma novela exibida uma vez ao mês. Ela apenas não o amava.

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