Novecentos longos quilômetros os separavam. Ao menos um fim de semana ao mês, ele arrumava as malas, aprontava
as roupas, reservava a escova de dente e suportava dificilmente doze horas dentro
de um ônibus de linha. Para ele, o tempo gasto e o cansaço do corpo não importavam,
pois a recompensa viria logo pela manhã.
O final de semana era sempre o
mais aguardado. Ele escolhia as melhores camisas, o mais novo perfume, aparava
a barba, penteava os cabelos. Ele não costumava ser vaidoso, mas só de pensar
em vê-la o ar se renovava, o dia cinza se tornava ensolarado, o sorriso perdido
retornava ao rosto.
Chegando ao destino, o lugar parecia impecável, magnífico, completo.
__ Este lugar só pode ser o paraíso, esbravejou o jovem.
As cenas, os movimentos, a natureza, o tempo. A garota
vinha em sua direção. Cabelos esvoaçantes e negros. Seu cheiro impregnava o
local e adormecia os sentidos. Ela o beijava com ternura e seus olhos brilhavam
de imensa alegria. O fim de semana foi regado a bebidas, risadas, conversas,
companhia agradável. Familiares e amigos o aceitavam como um filho e ele não
poderia desejar outra coisa no mundo.
Doze longas horas o esperavam novamente. De volta à realidade, a semana começou e ela não ligou. Os e-mails
dele não eram mais respondidos. Ela entrava em contato brevemente, falava cerca
de cinco minutos e dizia que estava muito atarefada. Desculpou-se pela falta de
atenção, mas precisava resolver outras coisas. Abatido,
o moço apaixonado entristeceu-se com tamanha indiferença.
No outro mês a cena se repetia.
Ele enfrentava extensas horas num ônibus, era bem acolhido e o êxtase enchia seu
peito de esperança. A viagem parecia uma dose entorpecente. A abstinência o
deixava desesperado, alucinado, desalentado. Ela continuava ocupada demais para
ele. O romance parecia uma novela exibida uma vez ao mês. Ela apenas não o amava.
Nenhum comentário:
Postar um comentário