quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Despedida


Quatro horas da manhã, horário local. O aeroporto estava praticamente vazio e pouco se via a não ser alguns funcionários e meia dúzia de passageiros. No check-in, algumas senhoras de idade se dirigiam ao balcão. Cabelos grisalhos, saias compridas até a canela, coque amarrado com grampos. Na fila, uma jovem impaciente aguardava a vez. Vestia um jeans escuro e um agasalho de tamanho grande.  Ela escondia o rosto dentro da gola da blusa, buscando se aquecer naquele frio incomum de uma capital sempre quente e seca. Cruzava os braços, roía as unhas, tremia as mãos e balançava as pernas. Inquieta. Ela não queria voar.

Ao lado da bela jovem, dois homens a acompanhavam. Um deles era mais alto aparentava cerca de quarenta anos, tinha cabelos louro médio e alguns fios discretos acusavam que o tempo passara. Seus olhos sempre agitados e mexilhões, não fitavam um único ponto. Este, o chamarei de senhor. O outro era um homem de no máximo vinte e cinco anos de idade, mais baixo que o primeiro, magro, branco como a nuvem, sobrancelhas grossas e olhar penetrante. Este último, o chamarei de rapaz.

Ao ser atendida, a jovem lançou mão aos documentos, esperando a confirmação do voo. O rapaz gentil levou a mala até a balança, a mesma acusou cerca de doze quilos, e a bagagem estava ok. Os três trocavam algumas palavras, alguns sorrisos. Vez por outra davam risadas mais longas e gargalhavam. O ambiente parecia feliz.

Após o check-in, o senhor, o rapaz e a jovem se dirigiram até a sala de embarque. Um segurança guardava a porta, conferindo a passagem e os documentos. As senhorinhas tomavam sua frente novamente, e a ansiedade da jovem aumentara cada segundo mais. Ela não queria voar.

Chegada sua vez, a jovem precisava se despedir. Entre os dois, escolheu primeiro o senhor, abraçou-o com força, assim como se agarra um pai, agradeceu pela boa hospitalidade, se desculpou por possíveis erros, e sorrindo, tentava disfarçar a tristeza que seus olhos, úmidos, insistiam em indicar. A segunda despedida parecia mais difícil. Olhou discretamente para o rapaz, tentando não encontrar seus olhos com os dele, deu-lhe um abraço rápido. Dizia obrigado sem muito prestar atenção ao que ele dizia. Os olhos dela se fechavam forçosamente e a preocupação em não deixar as lágrimas se escorrerem era maior que a vontade de ouvir as palavras que ele pronunciava.

Ao entrar na sala de embarque, um último olhar selou o adeus. Cabisbaixa, a jovem caminhava vagarosamente pela pista de decolagem. Pensativa. Triste. A velocidade com que dava cada passo era inversamente proporcional à vontade de ficar. Rastejava-se, quebrantada de coração, como se um arame farpado tivesse atravessado seu peito.


Entrou no avião, tomou o seu assento. Ela amava voar, mas não queria. Seu corpo se foi, mas seu coração ali ficou. Adormeceu. 

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