Quatro horas da manhã, horário local. O aeroporto estava
praticamente vazio e pouco se via a não ser alguns funcionários e meia dúzia de
passageiros. No check-in, algumas senhoras de idade se dirigiam ao balcão.
Cabelos grisalhos, saias compridas até a canela, coque amarrado com grampos. Na
fila, uma jovem impaciente aguardava a vez. Vestia um jeans escuro e um
agasalho de tamanho grande. Ela escondia
o rosto dentro da gola da blusa, buscando se aquecer naquele frio incomum de
uma capital sempre quente e seca. Cruzava os braços, roía as unhas, tremia as
mãos e balançava as pernas. Inquieta. Ela não queria voar.
Ao lado da bela jovem, dois homens a acompanhavam. Um deles era mais alto aparentava cerca de quarenta anos, tinha cabelos louro médio e
alguns fios discretos acusavam que o tempo passara. Seus olhos sempre agitados
e mexilhões, não fitavam um único ponto. Este, o chamarei de senhor. O outro
era um homem de no máximo vinte e cinco anos de idade, mais baixo que o primeiro, magro,
branco como a nuvem, sobrancelhas grossas e olhar penetrante. Este último, o
chamarei de rapaz.
Ao ser atendida, a jovem lançou mão aos documentos,
esperando a confirmação do voo. O rapaz gentil levou a mala até a balança, a
mesma acusou cerca de doze quilos, e a bagagem estava ok. Os três trocavam
algumas palavras, alguns sorrisos. Vez por outra davam risadas mais longas e
gargalhavam. O ambiente parecia feliz.
Após o check-in, o senhor, o rapaz e a jovem se dirigiram até
a sala de embarque. Um segurança guardava a porta, conferindo a passagem e os documentos.
As senhorinhas tomavam sua frente novamente, e a ansiedade da jovem aumentara
cada segundo mais. Ela não queria voar.
Chegada sua vez, a jovem precisava se despedir. Entre os
dois, escolheu primeiro o senhor, abraçou-o com força, assim como se agarra um
pai, agradeceu pela boa hospitalidade, se desculpou por possíveis erros, e
sorrindo, tentava disfarçar a tristeza que seus olhos, úmidos, insistiam em indicar.
A segunda despedida parecia mais difícil. Olhou discretamente para o rapaz, tentando
não encontrar seus olhos com os dele, deu-lhe um abraço rápido. Dizia obrigado
sem muito prestar atenção ao que ele dizia. Os olhos dela se fechavam
forçosamente e a preocupação em não deixar as lágrimas se escorrerem era maior
que a vontade de ouvir as palavras que ele pronunciava.
Ao entrar na sala de embarque, um último olhar selou o
adeus. Cabisbaixa, a jovem caminhava vagarosamente pela pista de decolagem. Pensativa.
Triste. A velocidade com que dava cada passo era inversamente proporcional à
vontade de ficar. Rastejava-se, quebrantada de coração, como se um arame
farpado tivesse atravessado seu peito.
Entrou no avião, tomou o seu assento. Ela amava
voar, mas não queria. Seu corpo se foi, mas seu coração ali ficou. Adormeceu.
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