sábado, 26 de novembro de 2011

Inocência perdida


A menina faria seis anos de idade no dia seguinte. Sorridente, com a inocência nata da infância, pediu ao pai um presente mais que especial: uma bicicleta. O pai, um velho carrancudo e fiel às tradições morais da família, resistiu, mas acabou cedendo ao desejo da filha.

A loja de artigos infantis estava lotada de brinquedos caros. As bicicletas vinham com adereços dos mais variados tipos, buzinas acopladas, cores femininas ou masculinas, penduricalhos e sininhos atraíam ainda mais os pequenos, porém, não convenciam o velho pai.

Ele resolveu tentar uma loja comum com bicicletas “normais”. Comprou ali mesmo uma simples e discreta de cor vermelha e resolveu seguir o conselho do vendedor – levou consigo duas rodinhas para ajudar na hora de equilibrar a menina em cima do novo brinquedo.

No dia seguinte, a casa estava totalmente decorada com bexigas coloridas e faixas com os desenhos favoritos da garota. A mãe confeitou um bolo de chocolate, o sabor preferido da filha. A felicidade não cabia dentro da criança. De cabelos amarrados dos dois lados com “chuquinhas” cor de rosa e pele angelical, puxou o fôlego e assoprou as seis velas acesas no bolo coberto de brigadeiro.

O pai, durão e com um sorriso discreto, trouxe a bicicleta vermelha acompanhada de um laço branco. Um grito estridente tomou conta da casa, seguido de fortes abraços e beijos molhados, típicos de crianças, claro. Ela passaria as próximas semanas tentando se equilibrar em duas rodas de uma simples bicicleta. Ela passou o ano inteiro andando pelas ruas, tomando ar puro, observando pessoas, distribuindo graça e entusiasmo.

O menino faria seis anos de idade no dia seguinte. Sorridente, ele pede ao pai um presente caro e muito desejado. Ele quer um notebook. O pai, um velho moderno, concorda e vai até uma loja de eletrônicos satisfazer o desejo do filho. A criança entusiasmada recebe o presente e enche o pai de agradecimentos. O menino liga o laptop, conecta à internet e passa a festa inteira navegando na rede. Os pais tentam repreender, porém, sem sucesso. A diversão na frente da tela parece mais interessante.


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